Temos as mesmas características, docilidade, hostilidade, manias, melindres...
Nesses meses que estive em casa, percebi que cada dia temos características marcantes de animais..
Aparentemente mostra uma força incrível, é quase uma referencia de força. Precisa estar em lugares seguros, entre amigos, de preferência da mesma espécie.
São sensíveis, intolerantes, desconfiados, nobres, leais uma vez que conquistam a confiança deles.
São frágeis de uma maneira que não se pode imaginar. Frágil na carne, no físico, mas também no coração, nos sentimentos.
Possuem vontade própria e quando essa vontade é podada, você quase vê nos olhos, a dor de não ter a liberdade e o respeito que lhe é devido.
Mas é preciso olhar com os olhos da alma, com o coração despido de malícia. Se você for capaz de entender um movimento, será capaz de respeitar e ser respeitado por essa criatura.
Do contrario do que pensam os homens, os cavalos intolerantes a dor, sendo capaz de vir a morrer por não saber administrar tal sentimento.
Sua desconfiança é de outras eras... Há quem diga que de tanto ser traído, preferiu se reservar. Tanto que ao nascer já reconhece quem são seus inimigos, e daí leva-se um bom tempo para obter a confiança desse ser novamente.
Sim é possível obter a confiança novamente. É preciso esforço, perseverança e verdade nas intenções.
Seus predadores são seus algozes, são os que precisam e usam do seu físico até o último suspiro.
Por vezes vemos cavalos trabalhando nas ruas, sendo explorados fisicamente, mas o pior disso tudo é ver sendo explorados moralmente, trabalhando quanto seu coração suporta, e quando este falha, explode, ele vai ao chão.
Seus últimos movimentos são inerentes, vem da sua musculatura forte, maltratada pela vida, ouve-se ainda uma respiração forte, rápida e breve.... Que vai diminuindo..
Tudo isso vai acontecendo e enquanto isso ao invés de mostrar respeito e compaixão pelo companheiro de trabalho, de dias de sol e chuva... O Explorador faz do tempo um aliado para fugir, com o pouco que consegue carregar, puxando a carroça que fora fardo para aquele ser tão frágil e grande, que agora fica no asfalto esperando a vida lhe sair pelas narinas nervosas.
O Explorador vai embora e deixa pra trás o explorado, ali nos seus últimos segundos de vida. Nem olha pra trás, é além de tudo um covarde que não merece sequer as duas pernas que o sustentam em pé.
Ao olharmos mais de perto, na cara do cavalo mesmo, vemos um olhar longe, aflito... Julgo ser medo, por estar mais vulnerável que em qualquer momento e estar submetido aos olhares de piedade. Algum ou outro até arrisca dizer que ele até chorou antes de dar um último suspiro, pode ser... Outros diriam que o esforço em demasia para respirar causaria os olhos inundados... Pode ser também...
Mas o fato é que ele fica ali até que algum órgão responsável possa levar aquele ser que antes trazia o sustento para uma família e que agora sem vida não passa de um monte de lixo. E terá esse tratamento.
Você fica com essa imagem na cabeça. Pensa como pode ter coragem de deixar pra trás alguém que estava com você todos os dias, durante o dia todo.
Que passou por apuros com você.
Que hora ou outra, balançava a cabeça para receber um carinho.
Como alguém pode maltratar um ser que é tão bonzinho, inofensivo?
Colocar-lhe tanto peso capaz de machucar.
Trazer tanta dor para um bichinho que nunca fez mal pra ninguém.
Isso não é pobreza, isso é miséria, miséria de espírito, de alma...
O carro de bombeiro chega, munido de guinchos e faixas para remover esse cavalo lutador.
De longe a gente nota o respeito que até eles têm por um ser vivo. Mas tudo é trabalho, não há tempo de pensar.
O Cavalo sem vida é içado para dentro da caçamba, e um som de algo sem vida caindo de uma altura não tão alta é ouvida. Dói ouvir isso. Mesmo sabendo que não existe mais vida ali, mesmo sabendo que da pior forma, a dor daquele bichinho acabou. Ainda existe no ar, um peso de horror pelo abandono sofrido pelo bichinho.
Os bombeiros vão embora, levando aquele que um dia ajudou uma família a não morrer de fome. Que teve suas forças absorvidas pela ignorância da mediocridade de um ser que não sabe o que é respeitar a vida.
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